quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007,23:28
Alpedrinha
Confesso que falar da minha localidade é extremamente penoso para mim. Não por desgostar dela, porque na realidade adoro-a, mas porque já há tantos textos escritos sobre o assunto, que receio cair no "cliché" de enumerar os monumentos, a história, as personalidades. Já se escreveu demasiado sobre isso.

O que me levou a escrever este post, confesso, foi crer que ainda não se escreveu tudo sobre ela. A descrição histórica e monumental não define por si só esta vila. Se assim fosse queria dizer que estava votada ao abandono, moribunda e que não era senão uma recordação saudosista. Percebo que o façam com o intuito de a publicitar e aumentar o turismo, mas não queiramos tornar as nossas localidades museus para o turista ver. Principalmente Alpedrinha.

Escusado será dizer que é uma terra linda, afável, misteriosa... Soberanamente colocada na encosta este da Gardunha, com grande abundância de água e com uma envolvente deslumbrante (devo referir que já foi melhor, mas os incêndios desfiguraram em parte a moldura natural da vila). Quem a vê a partir da estrada nacional nº18, que atravessa a povoação, ou da A23, pouco antes de entrar no túnel da Gardunha, não consegue vislumbrar o que ela tem para mostrar, quase que como protegida por um manto protector do olhar casual. Aí reside em parte o mistério e a magia que a envolve, numa vila que só se dá a conhecer através de uma visita calma, aprofundada, tomando atenção ao mais pequenos detalhes. Recomendo a vivamente a visita.

Apesar de não ser uma metrópole, tem apenas cerca de 1600 habitantes, esta vila reúne uma grande quantidade de singularidades, que a tornam única no panorama regional. É dotada de estabelecimentos de ensino desde o pré-escolar ao ensino secundário, o que garante instrução para todos os filhos da terra e arredores. Num país assolado pelo analfabetismo, esta pequena vila do interior cumpre um serviço fundamental. Tem diversos serviços deste uma estação de CTT, uma filial da Caixa Agrícola, uma estação de combustível, farmácia, piscina com água de nascente no entanto recentemente fechada pelo proprietário. Existe uma panóplia de instituições que fornecem também determinados serviços, desde teatro pelo já centenário Teatro Clube de Alpedrinha com o seu também centenário edifício, construído nos finais do séc XIX por iniciativa de um punhado de ilustres Alpetrinienses, até à instrução musical pela Liga dos Amigos de Alpedrinha, há mais de 50 anos ao serviço da população. Isto torna Alpedrinha naquilo que eu chamo de "micro-cidade".

É isto que a devia tornar num local aprazível para criar os nosso filhos. Uma espécie de condomínio de luxo onde todos desejariam viver. A localização é privilegiada, a uma distância relativamente curta das principais cidades do distrito Castelo Branco e Covilhã, a duas horas de Lisboa e a 1 hora da Espanha.

É este o meu sonho, como diria Martin Luther King, ver Alpedrinha como um oásis, um refúgio da opressão citadina, do stress diário do trabalho. Um enclave na Beira Interior onde a prioridade fosse a qualidade de vida.

No entanto existem diversas contrariedades desde a falta de terrenos urbanizáveis até ao mercado imobiliário parco em condições e preços razoáveis, a centralização dos serviços nas cidades em detrimento das localidades, deixando-as totalmente dependentes da "metrópole"... Mas sonhemos, porque como diz o poeta "Enquanto um homem sonha, o mundo pula e avança".

 
posted by Carlos
Permalink ¤ 0 comments