segunda-feira, 26 de março de 2007,01:34
Grandes Portugueses: Epílogo da Questão "Salazar",

E pronto! Confirmaram-se os piores augúrios. Salazar foi considerado o maior português de sempre com uma expressiva percentagem de 41%. Terminaram estes meses de polémica gerada por este concurso lançado pela RTP que visava por o país a discutir a sua história. Desde o início que a questão "Salazar", como eu apelidei num post anterior, vinha empolgando os portugueses, a princípio com a sua não inclusão e posterior inclusão na lista de indicações do concurso ao que Ricardo Araújo Pereira, num dos primeiros debates do concurso parodiou sobre a aversão de Salazar à votação dos portugueses em vida, se devia respeitar após a sua morte. Posteriormente com a sua inclusão na lista dos 10 mais votados e finalmente com a vitória do concurso, que na minha modesta opinião vai gerar ainda mais polémica.

Aquando do conhecimento do resultado final no programa, começou logo o burburinho com a deputada do PCP, Odete Santos a ter um incrível mau perder para uma cidadã que presa tanto a democracia e o voto dos portugueses, referindo que a publicidade ao fascismo era proibida por Constituição. Houve no entanto um comentário pertinente do professor Rosado Fernandes, defensor do Marquês de Pombal, dizendo que o resultado era uma resposta dos Portugueses ao actual Estado da Nação. Leonor Pinhão, defensora de D. Afonso Henriques teve também uma notório comentário ao resultado, referindo que se deve ao falhanço da educação no país pós 25 de Abril.

Podemos partir dos comentários finais dos participantes para encontrar uma razão para o sucedido, no entanto não passam de meras suposições que servem no entanto para reflectir no assunto. Uma das razões apontadas como já foi referido é a educação pós 25 de Abril, deficitária nas questões da ditadura Salazarista. Os portugueses da nova geração, que não viveram o problema não estão suficientemente esclarecidos sobre o Homem e a Obra deste estadista, mas sobre isso já falei anteriormente. Outra das razões é o estado da nossa jovem Democracia, incapaz de satisfazer os anseios dos portugueses que vêm nesta figura autoritária um exemplo de boa governação, longe da corrupção que assola a vida política portuguesa. A classe política está incrivelmente descredibilizada, muito por culpa própria. Os erros cíclicos dos diferentes Governos, o seu discurso irresponsável e demagógico e a sua inépcia levaram a esta atitude dos portugueses que aderiram ao concurso.

Devo no entanto referir que os grandes culpados desta situação foram os homens que derrubaram o regime, que formaram o Portugal Democrático, homens como Mário Soares e Almeida Santos, não negando o seu mérito, não acabaram com a mais importante: a corrupção. Aliás, acho que a corrupção se apoderou deles. Os Portugueses gostam de obra feita, de execução e determinação que subsequentemente leva ao gosto por homens fortes e autoritários. Cabe às novas gerações alteraram a democracia portuguesa, torná-la cumpridora, honesta e eficaz. Discuta-se Salazar, discuta-se o País, discuta-se a democracia. Que daí venha uma nova luz que nos faça novamente uma grande Nação.
 
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domingo, 18 de março de 2007,23:26
Miserére
Este será o meu primeiro post sobre uma das artes que me é particularmente cara: a música. Ainda hoje me recordo do meu primeiro dia na escola de música da Liga dos Amigos de Alpedrinha (LAA), com apenas 6 anos. Devo referir que não foi por vontade própria. Nessa idade a música ainda não me dizia nada. Mas o gosto musical do meu pai, na altura no coralista no coro da LAA e do meu irmão, também ele coralista do mesmo coro, mas já com formação musical também desde tenra idade na mesma escola de música, onde chegou a ingressar no conservatório de música nas classes de piano e formação musical. Desde o meu ingresso na escola de música ganhei amor à música, aprendi vários instrumentos, ingressei num grupo de música instrumental então criado na LAA de nome Orquestra Juvenil da LAA e mais tarde na própria Orquestra Típica Albicastrense, como executante de Bandolim e mais tarde de Bandola. Já numa fase final entrei também na fase da composição, com a criação de algumas harmonizações para a a referida Orquestra Juvenil, principalmente com uma harmonia da tão famosa Marcha de Alpedrinha.

Após esta introdução à minha ligação com a música, vou directo ao assunto que me levou a escrever estas linhas. No passado dia 17 de Março, englobado no ciclo de tradições da quaresma, QUADRAGÈSIMA, levado a cabo pela Câmara Municipal do Fundão, foi a Alpedrinha o Coro Misto da Covilhã, sob a regência do professor Luís Cipriano, realizar um concerto. Nesse concerto, realizado na Igreja Matriz de Alpedrinha, foram cantadas obras várias de música sacra de vários autores e para o final, a estreia da composição MISERÈRE do professor Luís Cipriano sobre os cânticos religiosos da quaresma, encomendada pela Câmara.

Devo referir que fui ver o concerto mais pela categoria do Coro e do seu maestro do que pela vontade de ouvir música sacra. Mas devo referir que tive uma espantosa surpresa ao ouvir esta nova composição. Para já pela panóplia de instrumentos que serviam de acompanhamento instrumental ao Coro. Não eram os vulgares violino ou violoncelo, mais clássicos, mas uma vasta panóplia de instrumentos de percussão tal como marimba, vibrafone, caixa, pratos suspensos, carrilhão, clavas, pau de chuva e imagine-se Bombos de Lavacolhos. Outro factor a salientar é a sonoridade da música, uma mistura entre cantos religiosos quaresmais e a sonoridade árabe cuja harmonia se entrecruza de forma mágica.

A composição divide-se em 5 andamentos: KIRIE que se inicia com uma frase cantada pelos penitentes, o GLÓRIA harmonicamente com um contraste entre um corpo tonal e uma oralidade mais ritmada, O SANCTUS muito mais ritmado e com mudanças bruscas de andamento que dá a ideia da agonia da morte e força poderosa da ressurreição; O BENEDICTUS o coro com um ritmo gerado por correntes e tacos de madeira, executado por eles transporta-nos para a sonoridade da crucificação e lembrou-me as procissões de sexta-feira santa e todo esse ambiente pesaroso; O AGNUS DEI, com que termina a composição, surge uma inovação na parte instrumental que acompanha o coro, que é em primeiro lugar a utilização dos tradicionais bombos que marcam o ritmo, de início vagaroso mas que vai evoluindo para uma ambiente cada vez mais forte e também a execução do Órgão de Tubos existente na nossa Igreja que dá uma sentido de divino na música. Tudo isto termina numa apoteose final que serve como pedra de fecho duma prodigiosa e original composição.

Tenho a certeza que este meu texto não transmite nem um milésimo do que se sente ao ouvir esta música e só tenho pena que a população não tenha aproveitado esta oportunidade de ouvir semelhante obra de génio, dada a fraca afluência de alpetrinienses. A todos eles só tenho uma afirmação: Não sabem o que perderam!
 
posted by Carlos
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segunda-feira, 12 de março de 2007,22:49
Ficção Televisiva

Sou fascinado desde sempre por televisão, "a caixa que mudou o mundo". Ainda me lembro de chegar a casa à tarde e devorar séries espanholas, dado que a antena lá de casa captava melhor os canais espanhóis que os portugueses. Canais esses que já vieram muito tardiamente, onde a única opção era a RTP. No entanto não deixava os seus créditos por mãos alheias. Quem não se lembra de Duarte & Companhia e outras séries que se aproximavam da ficção norte-americana, adaptando no entanto e bem à realidade nacional.

No entanto estas produções eram uma gota no oceano e a televisão preferia comprar produções brasileiras e americanas, muito melhores tecnicamente. Apesar disso, sempre me fascinou as séries americanas. Desde MacGyver, A Team, Knight Rider com essa maravilha da tecnologia, KITT, veículo dos nosso sonhos de criança, que acabava sempre por salvar o seu condutor. Saudosos tempos.

Agora, de novo, somos assaltados por produções de elevadíssimo calibre vindas desse mesmo país, tecnicamente muito boas e com argumentos magníficos. Não posso deixar de referir produções como Dr. House, brilhantemente interpretado por Hugh Laurie, que nos tinha habituado ao seu registo Britcom e que nos surpreende com a sua capacidade dramática. Devo confessar que nunca fui muito fã de séries sobre hospitais, mas esta está muitos furos acima, com um brilhante argumento e melhor interpretação. No entanto tem um contra, o seu visionamento torna-nos cada vez mais hipocondríacos.

Outra produção que merece destaque é Prision Break, também com um argumento fortíssimo, que no final de cada episódio nos deixa sempre em tensão para ver o episódio seguinte. Uma história muito encadeada, que se nos revela passo a passo e deixa agarrados à série. Não esquecendo também séries como Lost e Rome, sendo esta última uma produção megalómana que retrata Roma no tempo de Júlio César e Augusto, que quase se assemelha a uma produção cinematográfica. A primeira série já passou entre nós na 2:, estando agora a segunda série em exibição nos EUA.

Deve no entanto agradecer-se às televisões nacionais, que trazem até nós estas séries, porque a qualidade não tem nacionalidade e merece ser vista por todos. Quanto a isto não pode haver patriotismos. No entanto podem e devem servir de incentivo para que Portugal produza também séries de qualidade, com bons argumentos e interpretações e deixar-mos de vez gradualmente a produção de novelas, cada vez mais enfadonhas e entorpecedoras das mentalidades. Temos bons actores, alguns bons argumentistas, só resta dar o passo seguinte e talvez o mais difícil, financiamento para passar para a produção.
 
posted by Carlos
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