domingo, 18 de março de 2007,23:26
Miserére
Este será o meu primeiro post sobre uma das artes que me é particularmente cara: a música. Ainda hoje me recordo do meu primeiro dia na escola de música da Liga dos Amigos de Alpedrinha (LAA), com apenas 6 anos. Devo referir que não foi por vontade própria. Nessa idade a música ainda não me dizia nada. Mas o gosto musical do meu pai, na altura no coralista no coro da LAA e do meu irmão, também ele coralista do mesmo coro, mas já com formação musical também desde tenra idade na mesma escola de música, onde chegou a ingressar no conservatório de música nas classes de piano e formação musical. Desde o meu ingresso na escola de música ganhei amor à música, aprendi vários instrumentos, ingressei num grupo de música instrumental então criado na LAA de nome Orquestra Juvenil da LAA e mais tarde na própria Orquestra Típica Albicastrense, como executante de Bandolim e mais tarde de Bandola. Já numa fase final entrei também na fase da composição, com a criação de algumas harmonizações para a a referida Orquestra Juvenil, principalmente com uma harmonia da tão famosa Marcha de Alpedrinha.

Após esta introdução à minha ligação com a música, vou directo ao assunto que me levou a escrever estas linhas. No passado dia 17 de Março, englobado no ciclo de tradições da quaresma, QUADRAGÈSIMA, levado a cabo pela Câmara Municipal do Fundão, foi a Alpedrinha o Coro Misto da Covilhã, sob a regência do professor Luís Cipriano, realizar um concerto. Nesse concerto, realizado na Igreja Matriz de Alpedrinha, foram cantadas obras várias de música sacra de vários autores e para o final, a estreia da composição MISERÈRE do professor Luís Cipriano sobre os cânticos religiosos da quaresma, encomendada pela Câmara.

Devo referir que fui ver o concerto mais pela categoria do Coro e do seu maestro do que pela vontade de ouvir música sacra. Mas devo referir que tive uma espantosa surpresa ao ouvir esta nova composição. Para já pela panóplia de instrumentos que serviam de acompanhamento instrumental ao Coro. Não eram os vulgares violino ou violoncelo, mais clássicos, mas uma vasta panóplia de instrumentos de percussão tal como marimba, vibrafone, caixa, pratos suspensos, carrilhão, clavas, pau de chuva e imagine-se Bombos de Lavacolhos. Outro factor a salientar é a sonoridade da música, uma mistura entre cantos religiosos quaresmais e a sonoridade árabe cuja harmonia se entrecruza de forma mágica.

A composição divide-se em 5 andamentos: KIRIE que se inicia com uma frase cantada pelos penitentes, o GLÓRIA harmonicamente com um contraste entre um corpo tonal e uma oralidade mais ritmada, O SANCTUS muito mais ritmado e com mudanças bruscas de andamento que dá a ideia da agonia da morte e força poderosa da ressurreição; O BENEDICTUS o coro com um ritmo gerado por correntes e tacos de madeira, executado por eles transporta-nos para a sonoridade da crucificação e lembrou-me as procissões de sexta-feira santa e todo esse ambiente pesaroso; O AGNUS DEI, com que termina a composição, surge uma inovação na parte instrumental que acompanha o coro, que é em primeiro lugar a utilização dos tradicionais bombos que marcam o ritmo, de início vagaroso mas que vai evoluindo para uma ambiente cada vez mais forte e também a execução do Órgão de Tubos existente na nossa Igreja que dá uma sentido de divino na música. Tudo isto termina numa apoteose final que serve como pedra de fecho duma prodigiosa e original composição.

Tenho a certeza que este meu texto não transmite nem um milésimo do que se sente ao ouvir esta música e só tenho pena que a população não tenha aproveitado esta oportunidade de ouvir semelhante obra de génio, dada a fraca afluência de alpetrinienses. A todos eles só tenho uma afirmação: Não sabem o que perderam!
 
posted by Carlos
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